domingo, agosto 20, 2006

Fernando Pessoa by Álvaro de Campos



LISBON REVISITED (1923? 26?)

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz!
Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

4 comentários:

MysterOn disse...

You seem worried and faithless...

Put a smile on your face and moooooove on!

PEACE

Já sei meter os links (html) lol.

Miss K. disse...

Sou uma eterna desassossegada, como o meu amigo Pessoa...

Go on with your blog!!

MysterOn disse...

It's going...still trying to sort the lay out and other squemes...

Kissezz ;)

Anónimo disse...

"Se me acho cheio de nuvens escuras, se me apetece desistir ou se a angústia me visita pergunto-me
- Como estás?
e um sorriso principia a crescer sozinho dentro de mim. Lábios quase transparentes que me fazem ter vergonha de mim mesmo, da minha cobardia, da minha infidelidade à honra de estar aqui."

António Lobo Antunes


PS: Crónica completa em: http://photos1.blogger.com/blogger/1799/385/1600/Lobo%20Antunes.jpg