quinta-feira, janeiro 15, 2009

Antecipação inquietante

Ainda não vi "O Estranho Caso de Benjamin Button", mas já me sinto incomodada com o filme. Porque a vida é, por si só, uma coisa curta, fugidia e inesperada, com um final infeliz, e pensar na ideia de vivê-la ao contrário arrepia-me as carnes e o cabelo. Quantos amores não perdemos, nós que seguimos o dito curso natural das coisas? Quantos desencontros não vivemos, numa jornada mais ou menos conturbada? Quantas esperanças não guardamos, e perdemos, nestes anos de recta solidão? E, claro, quantas alegrias não temos, quantas vezes não rimos, quantas noites não amamos, quantos sítios não descobrimos, de crianças a adolescentes, de adultos a velhos? E depois dizerem-nos que não, que estamos contra o mundo, que enquanto ele caminha para o fim nós vamos para o princípio, que a escola é um sonho tardio que se cruza com os cabelos brancos do melhor amigo... A revolta de ser obrigado a ter uma vida diferente, mas nem por isso mais interessante, uma vida sem vida, em que a luta é contra o tempo que nunca pára. Imagino-me careca, de sobrancelhas grisalhas, um metro e meio de gente, sete anos de uma existência toda pela frente; e as minhas pessoas a fugirem na espuma dos dias, a irem lá para onde eu não posso ir. Não, não quero ficar cá enquanto todos morrem. Prefiro a nossa passagem pela Terra. Limitada e imperfeita, sim, só que infinitamente melhor.

12 comentários:

Madame Butterfly disse...

Nunca tinha pensado no filme dessa forma.Olhei para ele apenas como a possibilidade de um argumento original e deixei os sentidos de lado. Amanhã te direi o efeito provocado;)

Mnemósine disse...

Também não vi o filme mas penso de forma completamente diferente. Eu imagino antes como seria se toda a gente fosse assim e vivesse a vida das dificuldades para as facilidades, das dores para a jovialidade enérgica.
Mas não deixas de ter imensa razão. Daquele prisma, não deve ser uma vida feliz.

IandU disse...

Simplesmente, adorei o filme ;)

NonSense disse...

"A coisa mais injusta na vida é a maneira como ela acaba.
A nossa existência deveria justamente começar pela morte.
Os primeiros anos seriam passados num lar de terceira idade, até sermos expulsos por sermos novos de mais.
Alguém nos oferecia um relógio de ouro e um Ferrari e íamos trabalhar durante quarenta anos, até sermos suficientemente novos para nos reformarmos.
Aí desatávamos a experimentar drogas leves, álcool e muito sexo até ficarmos miúdos.
Nessa altura, poderíamos começar a brincar todo o dia e a gozar o facto de não termos qualquer responsabilidade.
Finalmente, chegados a bebés, voltávamos para o conforto da barriga da mãe, gozávamos um magnífico banho de imersão durante nove meses e acabávamos com um orgasmo..."

(Seinfield)

Miss K. disse...

nonsense:
já conhecia esse texto, e é muito bonito, de facto, mas na prática, se as coisas fosse possíveis dessa maneira, teria de ser assim para toda a gente, e não para uma só pessoa. é essa a diferença entre o texto e o filme, que retrata a travessia no deserto de um homem que está sempre onde não deve estar.

Mãos de Veludo disse...

Olá! tb me sinto incomodada pelo filme, principalmente porque ele é o unico a rejuvenescer.. deve ser ~uma solidão imensa..



p.s.- adorei o blog!

Sadeek disse...

Mas alguém quer morrer como um orgasmo?! :D

BEIJOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

Luzia disse...

Ainda não vi mas vou ver de certeza absoluta...porque só com a ideia do argumento já a nossa mente fica inquieta com pensamentos variados...tem de se ver o filme, mesmo que não se chegue a nenhuma conclusão. :)

Ritititz disse...

Vi ontem. E é...fantástico. Dá que pensar em mil e uma coisas, de mil e uma maneiras diferentes. Só por isso já vale a pena: Dá que pensar!

P.s- atentem ao burburinho que decerto se vai instalar na sala, aquando da passagem dos Brad pelos 40!

Paulo Barros Cardoso - P.B.C. disse...

Bem; não sou de fácil elogio, mas você convence-me, é um mago da crónica literária. Acabo de a eleger favorita. Não deixa mesmo nada por dizer…como que roubando-nos ou escancarando-nos os recantos do pensamento mais refundidos e, até, de tão consciencializados, os que dificilmente se traduzem na palavra…Tornei-me fã. Vai lá vai!

Anónimo disse...

muito bom o teu texto gostei....o receio de perder o que de bom a vida tem...seja qual o sentido que se toma.... ;)

GONIO disse...

O filme é fabuloso!!
Ide ver, Miss K. :)