quarta-feira, setembro 26, 2007

Conversas de família

Amanhã quero ir visitar as minhas avós. Estou com elas vezes de menos. Já tenho saudades de ver o seu sorriso depois de quatro meses sem saberem nada de mim e, para escrever verdade, acho que ainda sinto mais falta do que vivi ao seu lado do que alguma vez direi a alguém. Coisas que se perdem na vida... Uma das minhas avós, que por acaso tem o mesmo nome que eu, ou ao contrário, faz-me sempre a mesma pergunta: "Quando é que me dás um neto?". Posto nestes termos, até parece que um neto é um brinquedo que se compra no hipermercado mais próximo dali, daqueles corredores de Lar sem cheiro a Lar. Um neto. Não é um anel de noivado, nem um marido, nem um casamento com copo d'água às três da tarde e gente que nunca vi a dançar música pimba. Não - é um neto. Digo-lhe vezes sem conta que está difícil, que nem estou a namorar ninguém e, com o trabalho a correr desta maneira - nenhuma -, tão depressa não terei condições de trazer uma criança ao mundo. "Ai, mas eu gostava tanto de te ver com um bebé, já tens quase 26 anos...". Como se os quase 30 fossem um estigma... "A prima, avó, pede à prima", suplico-lhe; "A prima é mais velha, tem um namorado porreiríssimo, moram juntos, enfim, está tudo a favor deles, percebe?". Não percebe. Insiste no meu bebé. Então eu explico melhor, tirada que está a hipótese de fazer um desenho: "Avó, fazer um bebé é o de menos, arranjar um Pai para ele é que é um problema. E isso faz toda a diferença. Entende o que eu quero dizer?". Os olhos da minha avó abrem-se de azul-cinzento enquanto as suas mãozinhas trémulas agarram as minhas e só se ouve, muito baixinho, "Ainda bem que eu arranjei os dois num só. Pronto, filha, deixa lá, tens tempo. Para a semana falamos nisso melhor." Está bem.

4 comentários:

Caltuga disse...

:::)))) A+!

tiagwho disse...

Been there, done that, have the t-shirt...

E não são só as avós, mas as tias, amigos dos pais, basicamente toda a gente me acha um encalhado...

Ana A. disse...

Que saudades que me deram da minha avó...

Luzia disse...

Que linda! Fez-me lembrar o carinho com que a minha avó falava comigo! E ainda que essas perguntas não sejam muito agradáveis, quando feitas por outros, quando são feitas desta forma, tornam-se quase inocentes!