Dia de Ípsilon
Camané na capa promete. Este caderninho, que cresceu e ganhou vida própria com as remodelações do PÚBLICO (me like it, mea culpa), é agora o verdadeiro suplemento cultural da geração recibos verdes. No meio de críticas a filmes com as quais não podia estar mais em desacordo, quer pelos argumentos utilizados, quer pelos ataques feitos aos autores/actores, há entrevistas tu-cá-tu-lá fantásticas, textos de quem bebeu o cálice da inspiração na altura da escrita, reportagens que nos fazem parar o tempo, mais teatro, melhor música, e livros! Que saudades tinha de ler as conversas com esses senhores que escrevem os mundos por onde me perco! Mas quem vem hoje na capa é o Camané. E são dele as melhores páginas deste Ípsilon, a propósito do espectáculo que tem no São Luiz ("Outras Canções II"), e de outras coisas da vida. Vou roubar uma parte do tête-à-tête, que achei delicioso...
P - Falando em canções belíssimas: o que vai cantar do Sinatra?
R - O "Moon River". Não fazia sentido ir buscar o "I Got You Under My Skin". Pusemos uma ou outra canção que são bandeiras dos seus cantores, mas pusemos porque gosto muito delas - o "Ne Me Quittes Pas" é uma bandeira do Brell, mas é a canção que mais me fazia sentido cantar.
P - É das canções de amor mais desesperadas que já alguém escreveu: "Deixa-me ser (...) o ombro do teu cão"...
R - Ele queria ser o ombro do cão dela porque queria estar ao pé dela, não queria que ela o deixasse. E nessa fase da canção existe o desespero: nem que seja uma mosca à tua volta, o ombro do teu cão, qualquer coisa, mas que eu possa estar ao pé de ti.
P - Um tipo não sai a tremer depois?
R - É possível, porque há uma identificação ao nível de sentimentos... Muitas vezes os factos da vida não são aqueles mas os sentimentos já se viveram. Todos já tivemos as nossas obsessões.
P - Identifica em si momentos em que sentiu aquilo?
R - Completamente. São fases, não é? [Pausa longa.] O prazer é tanto, sabe?, de irmos buscar estes sentimentos... As grandes canções, se formos a ver, são tristes, falam de perda, de solidão. As pessoas quando ouvem essas canções..., é uma forma de exorcizarmos essa tristeza.
in Ípsilon de 27/04/07
2 comentários:
Pena que o concerto não tenha sido grande coisa. Fiquei um bocadinho decepcionada. Mas o Ne Me Quittes Pas foi, sem dúvida, o ponto alto.
miss k, estou pronto
para outra (que é como
quem diz: irei voltar).
entretanto, e não querendo
parecer intelectualzeco
(se saber francês e gostar
de brell for sê-lo, só o será
num portugal de província)
convinha que o camané quando
cantasse o tal grande tema
do Brell (e é um grande tema)
se preocupasse, ao menos,
em saber o que canta; e não,
de mão dada com quem pergunta
patetices, pensar que ombre
quer dizer o nosso (e português)
ombro. é parecido,
mas um pouco ao lado: ao ponto de
o sol lembra-me não o "ombro"
que sou, mas (que tal? próximo
não? só um pouquinho ao lado) a
sombra que sou. e
digamos ainda que é uma patetice
pensar que o Brell, poeta
escrevendo o desespero da perda
diria pueril querer ser
o ombro de um cão. grande Camané
por amar tanto uma canção que
põe nela desenhos animados em vez
de metáforas e símbolos verdadeiros.
miss K, um abraço para ti; e hoje
nenhum para aqueles dois.
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