segunda-feira, março 12, 2007

Lembram-se do azeite?*


Agora o post da discórdia é sobre o tabaco. Diz-se por aí à boca cheia que o Governo vai proibir o tabaco em lugares fechados e outros que tais. Porque fumar prejudica gravemente a sua saúde e a dos que o rodeiam, porque quem não fuma não tem que levar com o fumo de quem se quer matar precocemente, porque o ar fica poluído, e preto, e porco, e mau, porque sim, porque não, e porque talvez. Porque o Governo quer ser amigo. Quer que gostem dele (há maior prova de falta de personalidade do que querer que gostem de nós?) – quer que votem nele. Caramba, o tabaco mata! E então, a vida não mata também? Acordarmos todos os dias não é o maior risco que corremos? Mortos, não morremos mais. Agora vivos... Vivos, deixemo-nos de hipocrisias, até um iogurte natural nos pode matar! Se queremos que seja um cigarro, por que raio têm de ser terceiros a decidir sobre as quantidades de alcatrão que ingerimos ou deixamos de ingerir? Não querem fumar? Não fumem! Acho bem. Não morrem do mal, morrem da cura. Ou julgam que esse pão todo que andam a comer que nem uns alarves, essa farinheira que assam todos os fins-de-semana às escondidas, esse álcool que bebem como se fosse sangue de Cristo, esses comprimidos que tomam como se fossem milagres prêt-a-porter, essas dietas malucas que vos destroem o organismo, esses suplementos que tiram a fome mas não tiram a vontade de comer, julgam que é essa porcaria toda, essa pseudo-ausência de fumo que vos trará a vida eterna? Numa palavra, para ser pouco cruel: não. Fumar é um acto de liberdade pessoal. Puxar de um cigarro, após uma refeição, pode ser tão relaxante como meia hora dentro de uma banheira de água. Saborear um cigarro é viver intensamente até ele se esfumar. Desfrutar de um cigarro. Durante uma conversa, ao longo de um bom vinho, por entre os primeiros olhares, acompanhando longas gargalhadas. Pára tudo! Querem pagode e boa disposição, vão para a televisão. Pois. Numa sociedade sem moral e bons costumes, onde se quer implementar regras à viva força, é preciso disparar para qualquer lado. Mesmo que os franco-atiradores sejam tão culpados como aqueles sobre quem se dispõem atirar – ou estão a ver a ministragem toda a debandar dos restaurantes só para puxar do belo cigarro? ‘Tá bem, abelha. Diz que sim.
Olhem, tirem-nos tudo. Não nos deixem nada. Qualquer dia revistem-nos também as cuecas, para ver se escondem alguma coisa que vos interesse. A sério. Estão à vontade. Para quê deixarem-nos qualquer coisa realmente nossa, escolhida por nós? Liberdade? Ah! Livre-arbítrio? Oh! Poder de decisão? Credo!


*O mundo é um bidé, prova disso é que depois do sururu que foi o manifesto anti-Gallo, acabei a trabalhar na agência que fez o dito. É aqui que se escreve
há coisas fantásticas, não há?

8 comentários:

MysterOn disse...

Isto dá pano para mangas...

Eu até já fui multado por causa desse tipo de regras, e reconheço algumas vantagens nas mesmas (sobretudo nos odores do vestuário...), mas gosto pouco de imposições e de limites à liberdade individual. Temos tanto direito de fuamr como os não fumadores têm de não levar com o fumo!

Sendo completamente liberal (em termos de funcionamento de mercado) sugiro que deixem os proprietários escolher que tipo de estabelecimento querem e deopis o consumidor que escolha onde quer ir...(o resultado seria óbvio!).

Aguardo com expectativa para ver no que isto vai dar...
Quero também referir que até se sobrvive ao facto de não se poder fumar em bares, etc, mas não é fácil!!!Sobretudo quando estão -2Cº na rua.

Miss K. disse...

tinha a certeza que serias o primeiro a comentar! não sei, um feeling qualquer... andamos nisto há um tempinho, não é?

criptog disse...

eheh ... com jeitinho depois deste post ainda vais trabalhar para o governo!
:)

apipocamaisdoce disse...

"Não querem fumar? Não fumem! Acho bem!". Antes fosse assim tão fácil. A questão é que eu fumo não fumando, e isso é que me fode a vidinha. Gostava de almoçar ou jantar tranquilamente sem ter que estar constantemente a pedir "desculpe, não se importava de afastar o cigarro??". Quando a liberdade dos outros entra no terreno da minha, aí pára tudo!

El-Gee disse...

"K",

É embriagante a fluidez da tua escrita.

Mas estás a ver mal uma variável: ninguém te quer proibir de fumar, o que querem é proibir-te de obrigar os outros a inalar o fumo que sai dos teus pulmões após fumares o cigarro que tens o direito de fumar.

Se o fumo de um cigarro fumado - como as dietas, as farinheiras, o alcóol e o resto dos assassinos - se limitasse a prejudicar o fumador, ninguém te tentaria impedir de fumar em locais públicos.

O que se te pede - e aos ministros e a todos os restantes cidadãos, poderosos ou não, possam ou não ludibriar a Lei através das suas manhas e influências - é que respeites quem não se quer deixar poluir pelo teu fumo.

Se, em te pedindo, não o fazes, então há que conceber uma Lei que te obrigue a tal.

Porque, se tu ao fumar te matas, ninguém tem de facto a ver com isso (a menos que queiras ver a questão da perspectiva do custo para o sistema nacional de saúde de uma potencial doenca cancerigena ou cardiovascular tua, mas aí concordo que o fumar se equipara ao beber ou ao comer farinheira).

Mas, se tu ao fumar matas os outros, então eles têm o direito de impedir que fumes em locais onde eles e a sua saúde são prejudicados pelo teu fumo.

Essa é a razão, "K", pela qual serás proibida de fumar em locais fechados, e não na rua, onde o Governo, eu, e o resto dos não-fumadores que não gostam de fumo se estão nas tintas para quantos cigarros fumas.

Apesar de tudo, o teu blog revela uma inteligência apurada e acho que não te estou a dizer nada de novo.

Por isso, parabéns por este texto que tinha, na verdade e se eu estou a ver bem as coisas, mesmo muita piada.

Miss K. disse...

eheh... little K. here is smiling with the smoke...

claro que eu não quero obrigar ninguém a fumar o meu fumo; claro que acho mal (mesmo) que quem não fuma leve com o fumo alheio; claro que não quero matar ninguém com os meus cigarros-chaminé (somente à sexta e sábado, caros leitores); claro tudo isto e mais metade!! não só porque estou longe de ser uma fumadora de mão cheia, mas acima de tudo porque este texto respira liberdade - não há fumo, nem cinzas, nem vestígios de Marlboro por entre as palavras. sou só eu a dizer o que penso, depressa, tão depressa como falo (normalmente ainda nem acabei de pensar e já disse, e já fiz).

El-Gee disse...

É como eu.

Por isso é que escrevo tanta m*rda, de vez em quando!

MysterOn disse...

(comment fora de tempo...been away)

...mas quanto à questão de o não fumador não ter de levar com o fumo dos outros todos concordamos ...não é preciso tirar nenhum curso para se perceber isso.

Penso que deixei relativamente clara a a minha posição no priemiro comment, em que deveria de existir espaço para ambos os casos...dando liberdade escolha ao consumidor. Bem sei que os espaços para não fumarodes irião talvez ser em menor número, mas porra tenho o direito de estar num espaço com menos de 100 m2 e poder beber um café e fumar um cigarro, ou pelo menos gostava de ter, se o não fumador não gosta não entra...funcionando o inverso para o fuamdor claro!

Quanto aos custos de saúde meu caro
El-gee, penso que tenha noção das contribuições que os fumadores dão à sociedade em geral via impostos, possibilitando a construção de muito espaço público que para aí anda e não só. Por outro lado se analisarmos a questão, o fumador tem uma esperança média de vida inferior,o que se traduz num menor custo com reformas (a Seg. Social agradece) por exemplo...E não me venham com história dos custos com os doentes vítimas de câncro como consequência de fuamar, pois a "velocidade" ritmo de entrada directa de impostos via tabaco é bem superior às despesas com os doentes quase de certeza...

Vale mais ficar por aqui...se querem mais uma amostra de como isto não é fácil, atentem no seguinte exemplo:

http://www.villagevoice.com/nyclife/0710,altman,76000,15.html