sábado, agosto 26, 2006

September 11, five years later


Um bom filme, imperdível mesmo. Mas que não podia ser mais cruel, já que o argumento é totalmente baseado em factos tragicamente reais... O mundo às vezes pode ser um lugar muito mau...

Em 2003, revivi esses momentos com especial horror, porque estava prestes a começar o meu estágio no Público, logo na secção de política Internacional. Li tudo o que era jornal e revista, vi tudo o que apanhei na tv, ouvi comentadores experientes e nada. Nunca consegui compreender. O mundo é muito mais que os EUA, é certo, mas o que se passou naquele dia transcede o maior pesadelo que possamos ter ao dormitar numa estação de comboios: um país do mundo civilizado é, em menos de nada, completamente dominado por uma dúzia de loucos que dizem ter como missão na terra pregar a palavra de Deus... Desde essa altura, nunca mais tentei perceber o que realmente se passou no 11 de Setembro - porque é incompreensível. Nesse dia fomos todos americanos, e a partir daí vivemos em estado de sítio. Não sei que Deus é esse que manda suicidas darem cabo de milhares de vidas de uma só vez. Por isso, há três anos atrás, tentei desatar o nó dessa corda:

DOIS ANOS DEPOIS DE ONTEM

Há dois anos atrás, eu não sabia o que era a AL QAEDA, onde ficava situado o Afeganistão, ou quem era um milionário árabe e terrível chamado Bin Laden. O mundo, mais do que aquilo que eu podia ver, era aquilo que eu sabia que existia: centenas de países, uns mais pobres que outros, dezenas de culturas, milhões de pessoas a viver de outros tantos modos; felicidade, tristeza, dor, sofrimento, alegria, prosperidade, fome, enfim, tudo o que nos faz ser homens, e não deuses.
Mas de repente, numa manhã de sol como tantas outras, ou numa manhã em que o sol estava, até, particularmente esplendoroso, o mundo foi todo mudado. Num momento, há as pessoas, as cidades, as horas, os movimentos, os horários, o dia-a-dia, as coisas. Noutro há o espanto. Um avião embate numa torre alta muitos-muitos metros, vê-se o fumo e o fogo. Grita-se, teme-se pelos passageiros, pelas pessoas que estavam na torre, sem saberem, à espera do choque. Grita-se mas não se sabe nada, não se sente nada – porque só sabe, realmente, quem estava lá, quem viveu. E nós, de fora, não estamos a experimentar nada do que vimos, estamos a reagir ao que se nos aparece como horrendo. E não se tem ainda tempo de compreender toda a tremenda magnitude do acidente, porque já outro avião aterra bruscamente contra a outra torre, repetindo o efeito, todos os efeitos.
O ser humano fica, nestes momentos, vergonhoso do que é e do que pode ser. Tem vergonha de si, dos seus semelhantes, tem medo das suas capacidades, as que o elevam face aos outros animais, mas que também o põem no mais baixo degrau da dignidade dos entes vivos. Como pode alguém cometer actos deste teor, pensamos todos? Como é possível não ter remorsos, escrúpulos, sentimentos, compaixão? Porquê tudo isto?
O homem, quando nasce, marca um ponto de partida na sua história individual – na sua história individual, porque um homem não é todos os homens, é apenas um entre tantos e todos os que já existiram desde a primeira vez. Um homem não é toda a humanidade, nem um povo, nem uma família, um homem é em si mesmo um ser único e irrepetível. Mas, antes, durante e depois dele, há um número infinito de outros homens – um número incontável! Quem é o homem, quem sou eu, quem é o outro? Que direito tem, tenho e temos de nos julgar decisores, de mudar e acabar com a vida de outros que são tanto quanto nós?
O mundo, quando surgiu, foi para todos, não só para alguns. E se há abissais diferenças entre os homens, elas devem ter como propósito melhorar e enriquecer esse mundo partilhado, não criar focos isolados de dominação e intransigência – é por isso que os homens de hoje não se entendem, e mesmo não conhecendo os de ontem aposto em como também não se entendiam… Porque o homem tem de se lembrar que antes dele, e depois dele, o mundo continua, as pessoas enquanto espécie (à partida) continuam, enfim, as coisas seguem o seu curso COM OU SEM ELE – nós somos sempre produtos de um momento, e momento permanecemos durante toda a nossa passagem pela terra. Nós não somos nada sem o que nos antecedeu ou que nos sucederá – sem essas condições de passado e futuro, nós enquanto presente nem existiríamos…
Por isso, pensemos de novo naquele dia 11.
Contemos até 100, não, contemos o tempo que demoramos a contar até 100. Contemos agora até 500, até mil. Até três mil. Contemos três mil pessoas, três mil vidas – como se contam pessoas, vidas? Não se contam. É esta a razão pela qual de tudo o que se passou nas zonas e com as pessoas envolvidas no atentado nós nada sabemos. Nada se pode saber de uma vida fazendo a sua contabilização.
Seria preciso reviver todos os momentos, procurar todas as sensações, conhecer os motivos, entender as decisões, compreender os acasos. E, para isso, é necessário discurso directo – uma pessoa. Três mil pessoas, três mil histórias, três mil vidas. Três mil momentos do mundo que chegaram ao fim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Adoro ler o que escreves, estou impressionado não só com o que escreves como também com as fotografias que vi tuas.
Bjs
Ps: vê os teus emails do lifeisamasterpiece@gmail.com