segunda-feira, abril 03, 2006

LIFE: just a possibility

Nasces, choras, abres os olhos, agarram-te com força, choras ainda mais, olham para ti como se fosses o primeiro bebé do mundo, és amamentado, cresces devagarinho, começas a gatinhar, dás os primeiros tropeções, já dizes uns sons que no teu vocabulário são palavras, entretanto tornas-te independente e andas sem ajuda de ninguém, fazes três metros sem dares um único trambolhão, as fraldas são coisa do passado, tu adoras sanitas, ainda que a probabilidade de caíres dentro de uma seja de 88 em 100: estás pronto para o colégio.

Fazes novos amigos, aprendes a atar os sapatos, jogas à bola, sujas-te todo, andas à porrada, arranjas o primeiro inimigo e a primeira paixão, começas a ser um queixinhas, nunca dormes a sesta, roubas os berlindes dos outros, aprendes a andar de bicicleta, comes pão com Tulicreme, tiras as cadeiras aos teus colegas quando se vão a sentar, fazes construções com Legos, brincas com os Action Men e com os carrinhos telecomandados, recusas-te a tomar banho, bombardeias os teus pais com perguntas: chegou a altura da primária.

O primeiro dia é sempre difícil, nunca se sabe quem se vai sentar ao nosso lado, a professora pode ser a encarnação de Nossa Senhora ou o Diabo em figura de gente, depois há as reguadas quando te portas mal, por isso tens medo de ir ao quadro fazer contas de matemática, ainda que nas outras disciplinas até nem te safes mal de todo, o que tu gostas mesmo é do recreio, para poderes andar atrás das meninas, jogar às escondidas e levantar uma ou outra saia, afinal tens quase 10 anos: depois da 4ª classe, acabaram-se os mimos, agora é a sério.

Vais para uma escola onde estão alunos muito mais velhos, ali tu és o puto e não mandas nada, o mais que podes fazer é começar a jogar ao bate pé ou a experimentar um cigarro, jogas basket nos intervalos, és viciado em futebol e quando fores grande queres ser mais famoso que o Eusébio, falas mal das raparigas mas não páras de pensar numa delas quando vais para casa, se calhar até gostavas de estar sozinho com ela, mas não, as miúdas são umas idiotas, o que é que os teus amigos iam pensar se tu lhes dissesses que gostavas de alguém, faltas às aulas porque sim, passas o ano à rasca, e o outro, e o outro, e o outro, e os outros, só pensas em férias, e noite, não sabes o que queres de ti nem da tua vida só que tens de escolher porque o relógio não pára: chegaste ao 10ºano.

Foste para a área que o teu melhor amigo também foi, ou tiveste consciência e decidiste por ti, agora tens de te esforçar um pouco mais, estes três anos são lixados, ou entras na faculdade ou ficas sentado no passeio, não queres passar os dias fechado, vais-te orientando, tens um esquema só teu, estudas quando achas que é mesmo preciso, controlas as faltas, as notas, e assim nunca abdicas dos amigos, das curtes, dos fins-de-semana, e dos cigarros e outros companheiros de ilusões, por isso o vento sopra a teu favor, apanhaste um susto com uma namorada mas a magic pill resolveu tudo, estás tranquilo, em casa não te chateiam, daqui a uns meses são os exames e acaba-se isto tudo: universidade.

Caloiro, pintado, sem paciência, humilhado, bem-vindo à selva, vais-te baldar à grande, aqui ninguém te controla, vais começar a fazer da tua vida a tua vida, a escolher o teu caminho, no primeiro ano vais traçar um rumo, segue-lo no segundo, ou não, e no terceiro, ou não, e no quarto, ou não, e o que te tornares a seguir vai depender disso tudo, do que andaste a fazer para trás, vais entrar em stress porque nunca foste outra coisa a não ser "estudante", e não sabes ser mais nada, e olhas para o futuro e dizes "sim senhor, eu sei o que quero fazer" mas não sabes nada, porque aos 20 e tal anos ninguém sabe nada, quem tem um canudo ainda quente na mão não sabe nada porque a mão está a arder tanta que é a pressão do canudo, fazes uma jantarada com a família para comemorar o feito, vais para os copos com os amigos, e no fim disto tudo és um homenzinho ou não: segues o rebanho e vais trabalhar, ou tiras uns tempos para andar pelo mundo à procura de ti próprio.

Voltamos a falar daqui a 25 anos, para saber como foi?

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem, para menina escreves à homem, foi +- isso q me aconteceu de facto, também só tiveste de acrescentar o ritual de levantamento de saias...
Voçê até se ajeita a escrever, de certeza que alguém há-de reparar nisso