domingo, setembro 21, 2008

Domingo de manhã (escrito à noite)

- Lembras-te daquela vez em que eu te dei uma nota dobrada em cinco, mínima, no Totes, e tu ficaste a olhar para mim tipo não sabes que não se dá assim o dinheiro às pessoas?
- Xi, há quanto tempo! Nessa altura tu tinhas vergonha de pagar as coisas, querias sempre que fosse eu!

Este episódio, que já tem uns bons 12 anos, não tem nada de relevante a não ser o facto de ter acontecido entre mim e a minha irmã mais nova: uma conversa banal, sobre um acontecimento banal, num sítio banal. No entanto, nunca me esqueci deste fait-divers. Porquê, não sei. Faz parte daquele grupo privilegiado de coisas, mais ou menos importantes, que o tempo nunca apaga - um instante em que nos despedimos de alguém, a primeira vez que ouvimos uma música, um jantar especial, um encontro inesperado, ou então uma surreal ida ao cabeleireiro que vá-se lá saber porquê não nos sai da memória, uma passagem pela oficina, uma investida ao supermercado... Fico a pensar que, no meio de tantos fragmentos de que é feita a nossa vida, seria um luxo podermos escolher o que realmente gostávamos de guardar. Às vezes dou por mim a lembrar-me das coisas mais patetas, e depois há outras, tão boas, que perdi no momento em que se realizaram. Espero encontrar um dia o meio termo entre a recordação e a saudade.

7 comentários:

Kitty Fane disse...

Também eu espero encontrar o meu meio termo entre a recordação e a saudade. :-)

juliette disse...

Quando conseguires, diz-me o segredo. A mim, as recordações boas vêm coladas, agarradas, pregadas com nostalgia... Impossível arrancar uma da outra.

Ronhonho disse...

Xiii, do que me foste lembrar..... O velhinho Totes!! Tenho saudades...

Ana disse...

Tens toda razão! Há coisas que achamos insignificantes mas que ficam na nossa memória para sempre, e outras que pura e simplesmente se apagam!

Anónimo disse...

Espero que te recomponhas o mais rapidamente possível e que os teus pulmões fiquem em melhor forma que os do Michael Phelps. No entanto, e numa perspectiva egoísta, tenho de assumir que quando tens mais disponibilidade o teu “cantinho” vai mesmo o topo do topo. Por isso, no futuro, espanta as doenças mas não deixes de ficar uma vez ou outra a bezerrar de pantufas…

wednesday disse...

Pois, realmente eu às vezes lembro-me de cada coisa... Mas deve ser porque há algo que nos marca, mesmo que não liguemos a isso. Por exemplo nesse teu caso, acaba por ser um crítica, apesar de não ter nada de mal. Mas sim, era bom poder escolher, fazer um álbum e folhear de vez em quando.

Joana disse...

Deviamos andar sempre com a leveza das memórias mais felizes, não era!?!
Eu ainda não percebi porque não é assim... pode ser que um dia chegue lá!

Obrigada por teres partilhado uma coisa bonita!
Bjs