domingo, agosto 17, 2008
"Sozinho, quando me apetecia chorar, chorava, e nunca me apeteceu tanto fazê-lo como quando retirei do envelope a série de imagens do seu cérebro - e não porque soubesse identificar prontamente o tumor que lhe invadia o cérebro, mas apenas porque era o cérebro dele, o cérebro do meu pai, aquilo que o levava a pensar do modo rude como pensava, a falar do modo enfático como falava, a raciocinar do modo emotivo como raciocinava, a decidir do modo impulsivo como decidia. Aquilo era o tecido que dera origem ao seu conjunto de infindáveis preocupações e sustentara durante mais de oito décadas a sua obstinada autodisciplina, a origem de tudo o que me frustrara enquanto seu filho adolescente, o que regera o nosso destino no tempo em que ele fora todo-poderoso e determinara os nossos objectivos, e que estava agora a ser comprimido, deslocado e destruído (...)."
Philip Roth, in PATRIMÓNIO
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2 comentários:
Sempre que leio livros dele levo um baque... não é só a narrativa em si que é excelente: tem partes pungentes que parece que foram escritas para mim, que espelham magistralmente as minhas preocupações.
Ainda não li o Património, mas vou ler.
***
Mas no mínimo bem contada...
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