terça-feira, novembro 13, 2007

NY

Não sei se disse vezes suficientes a Nova Iorque o quanto amei conhecê-la. Não sei se as ruazinhas do Soho, decoradas por lojas como nunca vi, sabem o quanto amei percorrê-las, uma e outra vez. Duvido que os prédios, de tantas cores e com tantas histórias, naquela zona calma e cool da cidade, tenham noção de quantas vezes olhei para eles e os quis reter na memória, um por um. Tenho medo que os mil cafés pequeninos para um brunch ou uma salada, os que vi e os que não vi, nem tenham notado a minha energia quando me sentei nas suas mesas. E não podia exprimir-me muito, porque isto era apenas o Soho, que já é tanto, e Nova Iorque é imensa, é grandiosa, e não me posso permitir trair Lisboa por uma viagem que esperava há quase 18 anos… A cidade que nunca dorme está de facto sempre acordada, à espera de alguém para apanhar o táxi que vira a esquina, da carrinha FedEx parada a cada 300 metros, da sirene dos bombeiros que nem em noite de Bruxas tem descanso – não, o filme que vemos em cada sala de cinema, é um plateau a céu aberto, real, e parece ter espaço para receber todas as manias de todos os actores que dele queiram fazer a sua grande longa-metragem. E é isso que nos chama ao ouvido, de cada vez que passa o vento, “a vida tão curta, isto tão eu e por que não ficar aqui?”, mas não quero trair Lisboa, nem em pensamento, nem mesmo com a magia contagiante de Times Square, apinhada de gente até que alguém a cale, dia e noite, luzes vindas de todos os lados, de todas as cores, em todos os sítios, musicais que não há tempo para ver, lojas abertas madrugada adentro, o dólar tão baixinho, as compras a pesar nos braços… Bastava uma manhã em Central Park para querer viver e morrer em Nova Iorque, naquele parque está o mundo inteiro e o que quisermos sonhar, é um refúgio dentro da confusão-quase-perfeita, estão ali os nossos momentos a sós e acompanhados, a olhar os esquilos, os lagos, os trilhos, as árvores, os bancos com memórias de saudade, o espaço verde mais verde de todos os espaços verdes, o silêncio e a História de tantas estórias ali rodadas. Só que gritar a plenos pulmões que amo Central Park é trair a minha Lisboa, os meus morros do Rio, e por isso deixo-me passear até uma próxima vez… Cada cachorro a três dentadas, cada incursão à 5ª Avenida e ao cubo da Apple, cada passagem pela Tiffany’s onde a Audrey tomou o pequeno almoço há tantos anos atrás, cada foto para mais tarde recordar é mais que uma, são muitas, a visita à maior Nike de todas e o Cristiano Ronaldo, com a camisola da selecção, numa imagem gigante como símbolo máximo do futebol mundial, dois arrepios nas espinha e, sim, um orgulho enorme em ser portuguesa e poder dizer “Este canta o meu hino!”, a viagem ao largo da ilha para ver a Estátua da Liberdade e contemplar Manhattan antes de ir a correr para o “Mamma Mia”, e colar-me à cadeira para, a duas filas do palco, não o assaltar - o que se ecreve agora? Já tinha sido o mesmo com “Stomp”, na garagem oficial, há uns dias atrás. Não sei se quando cheguei ao TicketMaster e pude comprar o bilhete para a última loucura dos Monty Python, “Spamalot”, 50% mais barato por ser no próprio dia, e com mais dezenas de espectáculos naquelas condições, algum velho do Restelo me ouviu a magicar “isto em Portugal nem em quatro meses!”, mas espero que não… Eu não fui a Nova Iorque para comparar nada, porque já sabia que tudo seria incomparável. Este é um mundo. Aquele, é outro. Não há por estas bandas nenhuma discoteca com o conceito do “The Box”, uma das mais badaladas da grande maçã, um teatro antigo com vários espectáculos que podem chegar ao sexo ao vivo, e onde as celebridades gostam de dar um ar da sua graça. Portugal não estaria pronto para isso, por isso o “The Box” fica para os insiders, e o turista visita inevitavelmente o MoMA, e se assinar Miss K. arrepia-se com os Pollock’s e alguns Dalí’s, dá um salto de 86 andares até ao Empire e sente-se a formiga mais pequena do maior deserto, e lá está: Nova Iorque é linda. Não me emocionei como na subida ao Cristo Redentor, no Rio, talvez porque em NY há mais prédios do que natureza, ou porque sei lá o quê. Mas a vista, essa, é como o tal outro mundo a que a cidade pertence – indescritível. Assim como as pessoas, os americanos tranquilos, na rua, nos cafés, nas lojas, nos restaurantes, nos táxis ou nos espectáculos. Sempre disponíveis, sempre lá para nós, como dizia um nosso anúncio. Deve ser esse ritmo contagiante que nos faz acreditar que, pelo menos enquanto ali estivermos, o sonho comanda a vida, e nada é impossível. Somos actores e actrizes, sonhadores e mágicos, crianças e fadas, super-homens e super-mulheres, porque o dia só acaba quando chegar amanhã. E em cada Starbuck’s, onde se partilham tomadas para os computadores, em cada Victoria’s Secret, onde se vendem sonhos de todos os tamanhos, em cada megastore da Virgin, da M&M’s, da Disney ou da MTV, há sempre qualquer coisa à espera de cada um de nós, qualquer coisa que nem sabíamos existir...
Não sei se disse vezes suficientes a Nova Iorque o quanto amei conhecê-la. Não sei se o André, que me recebeu em casa com uma simpatia sem limites, sabe o quanto gostei de o conhecer. O mesmo serve para o Adriano, o Chico e todos que me acompanharam naqueles dias. Não sei quantos roteiros de Nova Iorque existem, menos ainda quantas versões. Só restaurantes, são 15 mil. Mas como o que se tráz das viagens depende muito do que se faz, eu fui aos melhores porque fui com a pessoa que melhor conhece e mais ama Nova Iorque. E sem a tua energia, Tiago, eu ia ficar mais 18 anos à espera de conhecer NY, mesmo se lá tivesse posto os pés… Agora já falo com ela em segredo, já nos tratamos por tu. Graças a ti, meu querido. Mas não digas a ninguém, porque não quero nunca trair Lisboa.

11 comentários:

ana disse...

Sim, é isto tudo. E eu também espero o tempo que for preciso.

wednesday disse...

Ainda estou à espera, também. Mas dado que algumas outras viagens de sonho já foram realizadas, aguardo ardentemente a minha primeira ida a Nova Iorque, que talvez seja no próximo ano. Não tenho o prazer de conhecer ninguém que me possa servir de guia, mas aqui ficam as dicas da Miss K. E claro, num texto fenomenal, no mínimo.

MysterOn disse...

Butterflys, butterflys ;)

you know what I mean!

Kiss

José Diogo disse...

Muito bom Kate. Grande viagem. O teu texto é como um jacto super-sónico: Lisboa-NY-Lisboa em 5m. Se cobrasses bilhete ganharias uma fortuna.

Joana disse...

Obrigada por me (nos) teres levado à Grande Maçã e sem pagar bilhete!

Sou posso dizer como aquele senhor septuagenário que aparecia num anuncio de tv e com ar satisfeito afirmava: Estou ma-ra-vilhada!
:)
bjs

Ana disse...

Texto fabuloso no mínimo! Se já tinha curiosidade, agora ainda tenho mais. É sem dúvida um dos meus destinos de sonho!

Eyes wide open disse...

:) gostei de te encontrar... especialmente no momento em que estou a muito poucos dias de viver este american dream.


*

Luzia disse...

Merecias aqui agora um comentário muito bem escrito a comentar este testo mas depois de ficar um tempo sem saber o que dizer, pelo sonho real que partilhaste, resta-me dizer que também quero algum dia olhar para NY e encontrar as imagens que as tuas palavras contruiram para quem nunca lá pôs os pés e só vê estas coisas nos filmes! Não sei quando será o dia, por mim seria já amanhã, mas algum dia será!

criptog disse...

"... Live in New York City once, but leave before it makes you hard.
Live in Northern California once, but leave before it makes you soft.
Travel ..."
(Mary Schmich)

macaca grava-por-cima disse...

Sem dúvida que partilho o teu sentimento. Especialmente aquele que expressas na última frase do teu texto... A sensação de estar a trair Lx não me gusta, mas NY é um arrepio de cidade, de vida!!!

Tb amei e todos os dias tenho vontade de regressar

Anónimo disse...

TAMBÉM QUEEEEEEEEROOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!