Humildes considerações sobre a vida
Não me ocorre nenhuma coisa mais difícil de conviver do que a vida. Lembrei-me disso a tarde inteira, enquanto tentava manter a cabeça livre de pensamentos de importância nula, mas não deu. Vagueei por ruas vestidas de Natal dos pés à cabeça, e ela sempre comigo, do meu lado, a vida. Sentei-me a tomar café a ver o sol e o Tejo, e nas duas cadeiras vagas pairava uma inquietação de uma para outra: era ela, a vida. Não sabia onde se sentar. Tentei abstrair-me daquele corropio sem nexo a ler um livro, só que as palavras pareciam ocas e o ruído à minha volta tirava-me os olhos da próxima frase. Desisti, subi a rua e olhei para trás. Lá vinha ela, a vida, caminhando sem pressas, parecia saber que me encontrava onde quer que eu fosse. Estava carregada de coisas minhas, de todas as coisas minhas, o meu passado todo, as birras de criança, as idas ao Lux, o primeiro beijo, o dia em que o Ovelheira me ensinou a escrever, os medos, o emprego que não vem, ela, a vida, anda atrás de mim com isto tudo às costas sem me dar descanso, a não querer que eu me esqueça dela. Não sei como, mas ela está em cada amanhecer, em todas as vezes que me vejo ao espelho e, travessa, me diz "olá!" e eu fujo, em cada bolacha que como ao pequeno-almoço, em todas as notícias que vejo e não vejo, nos outdoors espalhados pela cidade em que não encontro publicidade, encontro a minha vida, carregada como de costume, sempre de olho em mim. Se vou no carro ela vai ao meu lado calada, naquele silêncio que grita mais que uma multidão enraivecida, se lhe tento dizer qualquer coisa deixo de ter voz porque com a vida só se fala de dentro para dentro, se paro em algum lugar já sei que também vem, para me lembrar das coisas. Tudo o que eu quero é esvaziar esta cabeça que pensa demais na vida, e logo anda a vida, matreira, sempre atrás de mim. Já não lhe faço má cara se me entra quarto adentro ou se senta na sala a ver televisão comigo, não vale a pena. Fugir dela é como fugir de não sei o quê. É isso. Faltam-me as palavras porque não se pode fugir da vida nem um segundo. Nem a dormir. Posso correr as sete colinas de Lisboa que em todas ela vai estar à minha espera, para me lembrar de mim. Posso fugir para um prédio abandonado que ela vai escolher o andar primeiro que eu. Posso apanhar o eléctrico que sobe ao Castelo que será ela o motorista. Posso fazer o que quiser, ou não fazer nada, mas a minha vida vai andar sempre, sempre, atrás de mim.
11 comentários:
Se não os podes vencer, junta-te a eles.
Cada vez escreves melhor!
Greetings from Mozambique.
Miss K., pleaseee, look at youtubevideo:"be ready all time" and then for adicionalinformations check,www.unilever.com.br/
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rexona.asp;
P.S.1 - com (...)vai "sentir- bem, ficar bonita e aproveitar mais a vida".
P.S.2 - AnD anotHer way to bE uP niCeee is A tequiLla ShoTs q.b.
P.S.3- you have two choises, don`t forget!!! Take Care
Está nesse teu texto o sentimento que deves ter para com a tua vida real. Não o deixes fugir.
Olá K.
A vida não anda só atrás de nós...anda ao lado e à frente. Define-nos por altos e baixos, alegrias e desilusões, sorrisos e lágrimas, está em todo o lado, é verdade que fala conosco, mas também nos fazem escrever coisas maravilhosas ;) A vida é para abraçar.
Foi uma boa surpresa.
Bj.
Esvaziar a cabeça é fácil. Difícil é saber que tem que se ignorar.
Quando encontrares um caminho para percorrer ao lado dela, pode ser que a vida te deixe de perseguir...mas sempre a saberás presente!
Não andas a ver pessoas mortas como a outra criança, mas andas a ver a tua vida... senta-te num banco de jardim e fala com ela.
Escuta o que tem para te dizer. Se andas cansada de ti alimenta-te com respostas até saciares a insatisfação.
Mesmo que ainda não tenha chegado o tempo certo para agires, espera com serenidade.
Se ela te segue para todo o lado, está sempre onde tu estás...
Diria que a tua vida se apaixonou por ti.
Acho que se te apaixonares por ela, tu e a tua vida têm todas as condições para ser infinitamente felizes...
Mas isso sou eu... que não sei onde a minha vida está, neste momento... se a vires diz-lhe que estou por aqui.
Recordando uma estória especial ... nesse longo percurso em que seguem dois pares de pegadas, tu e a vida, quando nos momentos mais difíceis olhares para trás e achares estranho veres apenas um par de pegadas, não penses que a vida de abandonou ... são apenas os momentos em que ela te carregou às costas.
Parabéns!
:)
Nós e a vida somos como amigos de infância, daqueles com quem se brinca no recreio da escola. Uma vezes joga à apanhada connosco. Outras vezes é às escondidas ou à cabra cega. Há vezes em que ficamos horas no baloiço, a andar para a frente e para trás, para a frente e para trás... Ou então, empurra-nos do escorrega com tanta força que nos magoamos ao cair no chão. Faz de nós bonecas e deixa-nos acreditar em finais felizes que não chegam. Promete-nos flores no cabelo, mas depois atira-nos com areia aos olhos.
Há quem diga que há uma criança dentro de todos nós. Pois há. E a vida passa a vida toda a brincar com ela.
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