O melhor clube do mundo é o melhor, porque é o MEU

O pai já estava preparado: pensava que eu me ia cansar, que ia achar tudo uma seca e que a meio ia querer vir-me embora. Também não fazia mal, afinal de contas era apenas um amigável contra o Atlético de Madrid, mais um jogo de pré-época para rodar jogadores ou uma desculpa para não ficar sentado em frente à televisão e ver as emoções ao vivo. Em todo o caso. A casa das minhas tias ficava em frente ao estádio, das janelas dava para ver José Alvalade partido ao meio, só que as varandas estavam vazias porque a mãe, a avó e elas, as senhoras mais velhas, não gostavam de bola. Eu cá acho que nunca tiveram oportunidade de gostar: a minha tive-a naquela noite, cinco anos e qualquer coisa, meio metro de gente, magra que nem um canivete, cabelo invariavelmente cortado à rapaz, inquieta, de mil perguntas na boca e mais tantas na cabeça, nem anjo nem demónio, apenas um piolho com sede de coisas novas mesmo sem saber o que isso era... Luzes - muitas. Pessoas - como nunca tinha visto num só lugar. Gritavam em conjunto por uma mesma coisa, riam pela mesma razão, cantavam a mesma música. Eu a olhar para o meu pai e a pensar que estava em casa. Os meus olhos de reguila. O pai com medo do que a peste poderia ditar ao intervalo. O estádio tremia de emoções mil e nós ganhámos. Sei por fiquei até ao fim. 3-1. A partir daí, fiquei sempre. Um mês e pouco depois estava de volta, e todos os quinze dias, menos nos jogos com "os grandes". Esses, só os vi com maioridade adquirida. Chorei-os em casa, a mãe de cabelos em pé a pensar que a filha tinha virado menino. Vinte anos depois, de novo ao lado daquele que me levou de mão até ao velhinho estádio, saí ontem do colorido Alvalade XXI com uma certeza: o melhor clube do mundo não é o que tem mais dinheiro nem o que ganha mais títulos. O melhor clube do mundo é o melhor, porque é o MEU.