Dos enganos
- Dá-me um abraço, um último, só para sentir o teu cheiro. Não é como se nunca mais nos fôssemos ver, não, ninguém sabe o futuro, mas…
- Sabes que assim custa mais, um abraço traz um cheiro, um cheiro traz um olhar, um olhar traz um beijo, e isso são abraços sem fim.
- Não precisas dizer fim. Não há fins nem começos, há momentos em que a vida são dois feitos um. E esses são os melhores momentos, mesmo se tiverem um intervalo, um furacão pelo meio…
- Claro. É sempre bom ser prático nestas alturas. Eu dou-te um abraço, um beijo, quem sabe, e depois saio por aquela porta e tu deixas de existir para mim como até agora. Quem passas tu a ser? Ninguém, não é? A pessoa com quem eu dormia aninhada até cair o sol todo, começa a ser um estranho como qualquer outro. Aquele que eu agarrava com todas as forças que tinha e que não tinha, que ansiava ver só por uns minutos de riso e conversa - quem é esse agora?! Que lhe direi eu quando passar por ele na rua, o meu coração ainda a bater no compasso dele, ele naquela rua mas noutro mundo - que lhe digo? Sabes dizer-me disto?
- Também não é assim. Eu não vou fugir nem desaparecer, afinal de contas somos amigos antes de tudo. E estarei aqui para ti, sempre que precises. O que muda é apenas a maneira como estamos juntos. Só isso. A mim também me custa, acredita. Custa-me mais do que pensas.
- A ti também te custa… Olha, queres saber o que me custa a mim? Ver-te tão pragmático, tão assertivo, a falar de nós. Como se fôssemos uma coisa palpável. A despachar-nos para o baú de um passado que ainda nem começou, como se tivesses de apanhar o último avião da noite…
- Maria*, tudo isto por te ter pedido um último abraço? Se eu soubesse…
- Não. Tudo isto por eu ter à minha frente um desconhecido, e ter de me ir embora depressa, agora que o descobri.
- Sabes que assim custa mais, um abraço traz um cheiro, um cheiro traz um olhar, um olhar traz um beijo, e isso são abraços sem fim.
- Não precisas dizer fim. Não há fins nem começos, há momentos em que a vida são dois feitos um. E esses são os melhores momentos, mesmo se tiverem um intervalo, um furacão pelo meio…
- Claro. É sempre bom ser prático nestas alturas. Eu dou-te um abraço, um beijo, quem sabe, e depois saio por aquela porta e tu deixas de existir para mim como até agora. Quem passas tu a ser? Ninguém, não é? A pessoa com quem eu dormia aninhada até cair o sol todo, começa a ser um estranho como qualquer outro. Aquele que eu agarrava com todas as forças que tinha e que não tinha, que ansiava ver só por uns minutos de riso e conversa - quem é esse agora?! Que lhe direi eu quando passar por ele na rua, o meu coração ainda a bater no compasso dele, ele naquela rua mas noutro mundo - que lhe digo? Sabes dizer-me disto?
- Também não é assim. Eu não vou fugir nem desaparecer, afinal de contas somos amigos antes de tudo. E estarei aqui para ti, sempre que precises. O que muda é apenas a maneira como estamos juntos. Só isso. A mim também me custa, acredita. Custa-me mais do que pensas.
- A ti também te custa… Olha, queres saber o que me custa a mim? Ver-te tão pragmático, tão assertivo, a falar de nós. Como se fôssemos uma coisa palpável. A despachar-nos para o baú de um passado que ainda nem começou, como se tivesses de apanhar o último avião da noite…
- Maria*, tudo isto por te ter pedido um último abraço? Se eu soubesse…
- Não. Tudo isto por eu ter à minha frente um desconhecido, e ter de me ir embora depressa, agora que o descobri.
*para todas as Marias, nós.
1 comentário:
E quando se "vê" alguém que na verdade é "ninguém", é tramado. Mas é bom, porque pelo menos não se perdeu muito mais tempo.
É isto tudo.
Enviar um comentário