domingo, maio 21, 2006

(A vida fica sempre pela metade)


Metade, Oswaldo Montenegro (poeta e cantor brasileiro)
Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito,
a outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe seja linda
ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
pois metade de mim é partida,
a outra metade é saudade
Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
pois metade de mim é o que ouço,
a outra metade é o que calo
Que a minha vontade de ir embora
se transforme na calma e paz que mereço
que a tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso,
a outra metade um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflicta meu rosto num doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
pois metade de mim é a lembrança do que fui,
a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o seu silêncio me fale cada vez mais
pois metade de mim é abrigo,
a outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma resposta
mesmo que ela mesma não saiba
e que ninguém a tente complicar
pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
pois metade de mim é plateia,
a outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
pois metade de mim é amor,
e a outra metade também.

1 comentário:

criptog disse...

Felizmente na vida há sinergias, permitindo que metade mais metade seja maior do que 1 ... e vivendo várias faces mais plenamente percorremos o Caminho!
:)