quinta-feira, maio 04, 2006

100 estrelas no Céu e Eu 100 nenhuma para o enfeitar...

O sono não vinha, as horas passavam, a manhã chegaria e eu, uma vez mais, de pé. A ler como se aquelas fossem as últimas páginas do último livro do mundo, no meu último dia no mundo. Ouve-se um Seu Jorge baixinho para não incomodar os vizinhos reais e os pensamentos imaginários, aceita-se a companhia nula de um televisor sem som, e o tempo desliza sem se dar por isso. Talvez fosse melhor ir dormir. Mas não sem ver, de novo, os sites obrigatórios... Qual será a frase do dia n'O Citador? Aí vão as teclas, www.citador.pt, em segundos o castelo abre as portas e pum, toma lá disto para terminares a noite ainda mais em claro:

"PARA QUE PERCORRES INUTILMENTE O CÉU INTEIRO À PROCURA DA TUA ESTRELA? PÕE-NA LÁ"

Agora sou eu que fico a olhar para mim: Vergílio Ferreira em minha casa às três da manhã. Este gajo já morreu, este gajo aparece-me aqui do nada, sem avisos nem falinhas mansas, e manda-me isto à cara sem ai nem ui. Será que mais alguém foi apanhado nas malhas do autor da "Aparição", ou terei sido só eu, eu que preciso de ouvir isto mais do que ninguém? Fxxx-xx. Nem preciso meter moedinha, o carrocel dos pensamentos apanha-me na casa de partida, e lá vou eu outra vez viajar para fora do tempo e do espaço.




O universo é infinito, é plural, é uma explosão de muitos tudos e de tantos nadas, e eu sou só uma para o universo: uma para o universo às três da manhã... Com a cabeça cheia de coisas para perguntar aos deuses, com a imaginação a tropeçar nas ideias que vai processando, com um coração que bate-bate-bate com ânsia de bater mais e mais e mais. Eu quero entrar nessa sua estrada, essa de terra lavrada, para me fugir de mim. Três da manhã e saem-me versos como se a minha vida fosse escrever poesia... Não vou porque tenho medo, porque quero muito, porque sei que não vejo o meu futuro no meu futuro - o meu futuro sou eu, e eu estou aqui agora, com medo de sair. E ele continua a repetir, "Para que percorres inutilmente...", e é isso mesmo, eu corro o céu inteiro à procura de uma estrela a quem tenho de ser eu a dar vida. As estrelas não nascem do nada, nascem do tudo. Ah... Se eu pudesse pegar em mim e lançar-me sem receios para o universo, se eu pudesse encaixar dentro do escuro da noite para o transformar na claridade do dia, se eu pudesse... Se eu não tivesse medo de poder fazer isto que escrevo e isso que penso ao ler o que escrevo, eu entrava pela terra adentro, pelo mar adentro, e revolvia o ser e o querer e o nós e o nada. Mas no entretanto mais não faço que andar às voltas no meu carrocel, afinal sei que música vou ouvir, sei em que sinais vou parar, sei o que não posso sentir, não tem porquê arriscar... Três da manhã.

E enquanto eu olhar para cima com medo de lá chegar, a lua nunca vai deixar de ser apenas a lua, as galáxias nunca vão deixar de ser somente as galáxias, e o infinito nunca vai deixar de ser o impensável infinito. E eu continuarei sentada, à espera que a minha estrela ganhe forma de vida, e que suba bem alto para que eu só a possa contemplar, e não tocar. "Para que percorres inutilmente..." uma vez, outra vez, e depois de tantas vezes quero abraçar o mundo, mas quando dou por mim já estou a dormir. E volto a adiar o encontro para amanhã...

5 comentários:

Anónimo disse...

o melhor texto de "life is a masterpiece" até ao momento, digo eu!

Guilherme Castanheira disse...

A noite pode ter sido "chata" mas que inspirou, inspirou...

bom texto

abraços

criptog disse...

Tentando comentar sintonizadamente ...

Um enigma antigo: como "resolver" a Estrela? O "escuro da noite", a "claridade do dia" ... as estrelas do Céu iluminam o Caminho, mas para ver além do reflexo é preciso brilhar.

:)

Buttafly...fly...fly... disse...

e chama.se a isto inspiração! Muiiiito bom! ;-)

Anónimo disse...

Catarina, só para registrar que passei por aqui e li um poquinho do teu blog.
E aí, novidades sobre aquilo que conversamos?
Beijinhs,
Lucilia